sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Klayanderson

Nós sabemos que a vida é uma caminhada cheia de surpresas. Algumas boas, outras felizes e aquelas que chegam cheias de tristezas deixando enormes cicatrizes.

Dois de abril de 2005 foi este dia na vida do Klay. Somente 27 dias antes do seu aniversário. Ele foi ao supermecado fazer umas compras como se fosse um dia comum. Comprou, conversou com amigos no supermecado e voltou para casa.

Chegando em casa, colocou as sacolas com as compras na mesa e ia começar a guarda-las quando seu tio lhe disse: Klay coloca uma musica pra gente! Ele foi até o sofá, sentou-se e ficou com um olhar estranho no rosto. Ele lhe perguntou: Klay tá tudo bem?? Achando que ele estivesse chateado com algunha coisa, insistiram na pergunta e ele respondeu estou com uma dor de cabeça muito forte e está tudo rodando. Neste momento meu irmão me ligou e me disse o que estava acontecendo e o que eu achava que ele deveria fazer. Eu lhe disse: dê a ele 2 tilenol e leve-o para o hospital. Meu irmão deu o remédio e saiu correndo para chamar o outro irmão que morava a 2 quarteiroes dali para lhe ajudar, pois o telefone deste não atendia. Quando estava no meio do caminho a noiva dele ligou e disse para ele voltar correndo, pois o klay estava vomitando e parecia muito mal. Eles chegaram e levaram-no para o hospital.

Esta dor de cabeca mudaria para sempre a vida do Klay, que jamais pôde guardar as compras daquele dia.

Ele já chegou no hospital em coma, os médicos fizeram os exames e mandaram ele com urgência para outro hospital. Eu saí às pressas de New York e fui para New Jersey, para o hospital onde meu sobrinho estava. Chegando lá, os médicos vieram correndo pedir que assinássemos um documento, pois eles precisavam colocar um dreno na cabeça do Klay e acreditavam que ele não conseguiria sobreviver pois o cerebro dele estava banhado em sangue. Fiquei desesperada!! Até aquele momento nunca tinha lidado com qualquer tipo de doença, e ainda que soubesse o que era um AVC, eu não conseguia entender porque ele não poderia sobreviver. Liguei para um médico amigo meu, no maior desespero e, mesmo sem conseguir falar direito, ele conseguiu me entender e pediu para falar com os médicos. Conversaram e os médicos me chamaram para mostrar as fotos da cabeça do Klay, e me mostravam uma enorme quantidade de manchas de sangue, me dizendo: é impossível ele sobreviver assim. Eu chorava sem consolo e sem acreditar.

Eles levaram o Klay, e chamaram um padre para conversar comigo. mais tarde nos chamaram para o CTI, onde ele estava. Chegando lá, encontrei o Klay todo entubado, do lado esquerdo da cama tinha o soro e do lado direito, abaixo da cama, tinha uma bolsa igual a do soro, que era para onde ia o sangue drenado da cabeça dele. Não sei nem explicar o que senti…
Acho que não existem palavras para descrever tamanho sofrimento.

Depois de 24 horas, os médicos nos chamaram e disseram que tinham que abrir a cabeca dele com urgência, pois a pressão intra-craniada estava tão alta que estava quase fervendo. Não seria uma cirurgia para remover nada. Só abrir para aliviar a pressão… E o pior de tudo, disseram que quando eles abrissem, se o Klay sangrasse, ele morreria. E que era certo que ele sangraria, mas era necessário abrir-lhe a cabeça. A cirurgia ia demorar entre 4 e 6 horas. Choramos, rezamos, pedimos. Só mesmo a fé neste momento.

Três horas depois os médicos voltaram e disseram que o impossível tinha acontecido e o Klay não tinha sangrado. Eu sabia que Deus estava ouvindo as nossas presses e não parei de rezar. Ele votou para o CTI e depois de uma semana os médicos me chamaram outra vez, dizendo que precisavam operar o Klay novamente para colocar a sonda alimentar e a traquiostomia. Mais uma vez o Klay vence a batalha e mesmo sem forças supera tudo. Volta para o CTI e ali permanece por 4 meses em coma profundo.

Os médicos esperando ele morrer e eu esperando para leva-lo para casa. Em julho, o Klay abri os olhos e eles decidem fazer uma cirurgia para colar as veias mal formadas. Fizeram a embolização e daí uma semana depois colocaram o Klay num CTI menos intenso. Ele continuou em coma, mas já era coma parcial, onde ele abria os olhos, mas não via.

Novembro, o Klay sai do coma, mas permanece no CTI. Começo de dezembro fazem outra cirurgia. Final de dezembro, Klay sai do hospital e os médicos escrevem em seu boletim que ele seria um vegetal.

Ele vem para New York, para um centro de fisioterapia; fica até fevereiro. Depois muda dali para outro centro de fisioterapia também intenso e lá permance por 1 ano e um mês. Lá eles conseguiram tira-lo da sonda alimentar e ele começa a comer pela boca novamente. Volta para o hospital para fazer outra cirurgia. A terceira embolização.

Graças a Deus sobrevive a mais esta. Logo depois desta cirurgia, recebemos a trágica notícia que a mãe do Klay havia morrido no Brasil. Ela era jovem, mas como o filho, ela lutava para sobreviver enquanto aguardava na fila para um transplante de rins. O seu sofrimento e a agonia vivida pelo filho se somaram, levando-a a falecer.

E como dar uma notícia dessas para ele???

Os médicos, psicólogos, fisioterapeutas que trabalhavam com ele, juntamente comigo achamos melhor preservá-lo, pois ele precisava juntar forças para a própria sobrevivência, e esta notícia poderia tornar-se ainda mais trágica.

Depois desta clínica, o Klay foi para casa e ficou fazendo fisioterapia em casa, esperando a hora de fazer a última cirurgia. Que foi para mim uma das muitas decisões difíceis a serem tomadas na vida do Klay.

Ele estava super bem, longe de ser o vegetal que os médicos reportavam, mas ainda tinha uma pequena veia para ser tratada. Marcamos para julho de 2007. Foi triste leva-lo de volta ao hospital. Chegamos lá e ele foi para a sala de cirurgia. Passada quase uma hora, os médicos me chamam e dizem que a embolização seria mais risco do que benefício para o Klay, pois a veia que faltava ser fechada estava muito dentro do cérebro.

Para eles, o melhor seria abrir-lhe a cabeça novamente. Quase morro do coração ali mesmo. Mas tive que concordar e voltamos para casa. Marcaram a outra cirurgia para setembro de 2007. Ali fomos nós mais uma vez… Esta foi a cirurgia mais difícil e demorou das 7 da manhã, quando ele entrou, até 4 e 30 da tarde, quando o médico me chamou e disse que tinha corrido tudo bem, mas não sabia se ele tinha conseguido remover tudo. Por isto ia fazer um exame no Klay que é quase outra cirurgia. Levar uma câmera até o cérebro, através de um corte na virilha, para saber se tinham conseguido remover toda a má formação.

Só fui ver o Klay às 9 da noite. Ou seja, desde as 7 da manhã até as 9 da noite na sala de cirurgia. Dali ele foi para o CTI. No outro dia, ele já olhava, me reconhecia e dizia com a cabeça que estava bem. Infelizmente, depois de uma semana, ocorreu hidrocefalia e ele teve que fazer outra cirurgia, para colocar um dreno permanente. No CTI ele ficou por mais 4 meses. Até que recebeu alta e fomos dali para o centro de reabilitação interno novamente. Ali descobrimos que algo estava muito errado, pois o Klay não respondia às fisioterapias e infelizmente foi eu quem descobriu que era porque ele havia perdido a audição. Foi triste demais.

Fizemos todos os exames possíveis, tudo indica que o aparelho auditivo está perfeito, mas ele não ouve. Depois que descobrimos isto, ele começou a se desenvolver bem na fisioterapia e lá ficou até abril.

Bom, com esta última cirurgia, o Klay não corre mais o risco de vida, mas infelizmente não ouve mais.

Não vou passar para vocês os sustos nos hospitais, as infecções, as febres altíssimas, porque senão eu não iria parar de escrever.

O Klay é considerado pelos médicos um verdadeiro milagre! Por ter sobrevivido e por não ser o vegetal que eles tinham a certeza que seria. Agora, o tratamento com células-tronco chega cheio de esperança… Não de um milagre, mas que o Klay possa ter uma qualidade de vida um pouco melhor e quem sabe, com as graças de Deus, voltar a ouvir. É por isto que queremos ir a China.

Tudo isto nos mostra como é grande o amor de Deus por nós!!


Sueli Figueiredo – tia do Klay

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